Investidores temem que as tarifas provoquem uma recessão global; por isso, preferem ativos considerados mais seguros e deixam de lado investimentos de risco. Trader trabalha no pregão da Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), em 11 de abril de 2025
REUTERS/Brendan McDermid
O tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, provocou um verdadeiro caos nos mercados financeiros de todo o mundo nos últimos dias.
Desde o dia 2 de abril, quando Trump anunciou tarifas de 10% a 50% sobre produtos importados de mais de 180 países, as bolsas de valores viveram quedas e saltos históricos, relacionados às decisões do republicano.
Os investidores temem que as tarifas encareçam os produtos que chegam ao país, pressionando a inflação e diminuindo o consumo, o que pode provocar uma desaceleração da maior economia do mundo e até uma recessão global.
Neste contexto, “a incerteza de como vão ficar as relações comerciais e o impacto que isso tem na economia faz com que os investidores fujam dos ativos de risco e busquem proteção”, explica o analista financeiro Vitor Miziara.
O resultado do tarifaço até o momento foi de queda nas bolsas de valores, bitcoin e petróleo, enquanto o ouro, considerado ativo mais seguro, registrou alta.
O dólar, por sua vez, subiu frente a moedas emergentes, como o real, mas perdeu valor em países desenvolvidos. Os juros dos títulos públicos americanos subiram.
Veja abaixo como o tarifaço de Trump impactou cada um desses ativos.
Bolsas de valores 📉
As bolsas de valores dos EUA, Ásia e Europa despencaram nos dias seguintes à divulgação do tarifaço e caíram ainda mais à medida em que a China anunciou retaliações às taxas americanas, ampliando os efeitos da guerra comercial entre os dois países.
Na quarta-feira (9), então, Trump anunciou uma redução para 10% nas taxas aplicadas para a maioria das nações atingidas pelo tarifaço, com exceção da China, e as bolsas dispararam.
A alta, porém, não foi suficiente para compensar as perdas da maioria dos ativos, com investidores ainda cautelosos com as inúmeras tarifas que seguem em vigor, apesar da redução, e a escalada da guerra tarifária com a China.
Veja o desempenho das principais bolsas pelo mundo desde o anúncio do tarifaço:
➡️ Nos EUA, o Dow Jones caiu 4,76%, o S&P 500 caiu 5,50% e o Nasdaq caiu 5,10%, apesar de ter registrado sua maior alta desde 2001 após o anúncio da redução do tarifaço.
➡️ Na Europa, o índice Euro Stoxx 50, que reúne ações de 50 das principais empresas da Europa, caiu 9,52%.
➡️ Na Ásia, o CSI 1000 (da China) caiu 6,61%, o Hang Seng (de Hong Kong) caiu 9,86%, o Nikkei 225 (do Japão) caiu 5,99%, e o Kospi (da Coreia do Sul) caiu 2,91%.
➡️ No Brasil, o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, caiu 2,67%. Por aqui, a bolsa chegou a se segurar logo após o tarifaço, já que o Brasil recebeu a menor taxa, mas despencou no dia seguinte, acompanhando o movimento global.
Dólar 💵
Considerado um ativo seguro, o dólar teve alta de 3,03% em relação ao real desde a divulgação do tarifaço. Durante a semana, chegou a encostar nos R$ 6,10, mas, nesta sexta-feira (11), fechou em R$ 5,87.
A moeda americana, porém, tem perdido valor frente a de outros países desenvolvidos. O índice DXY — que compara o dólar a uma cesta de outras seis moedas fortes, como o euro e o iene japonês — caiu 3,75% desde a divulgação do tarifaço.
O motivo é que a busca de muitos investidores por proteção não está sendo, necessariamente, nos EUA, epicentro da guerra comercial, afirma o especialista em câmbio Luan Aral, da Genial Investimentos.
Eles também têm comprado outras moedas seguras, o que faz com que elas se valorizem em relação ao dólar, explica.
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Bitcoin 🪙
Assim como a maioria dos ativos de risco, as criptomoedas também estão sofrendo com o tarifaço de Trump.
Na segunda-feira (7), o bitcoin, a criptomoeda mais famosa do mundo, atingiu sua menor cotação de 2025 até agora, chegando a US$ 74.524.
Vale lembrar que o bitcoin iniciou o ano cotado a mais de US$ 94 mil e chegou a ser negociado na casa dos US$ 109 mil. A empolgação foi motivada pela posse de Trump como presidente, pois investidores acreditavam que ele poderia favorecer a desregulamentação do mercado.
No entanto, desde os primeiros anúncios de tarifas impostas por Trump, no início de fevereiro, a criptomoeda passou a registrar uma queda contínua.
Desde o dia 2 de abril, especificamente, o bitcoin teve uma alta de 1,76%, atualmente cotado em US$ 83 mil.
Petróleo ⛽
O petróleo bruto é a commodity mais negociada no mundo e sofreu perdas expressivas após o tarifaço.
A explicação é que, num cenário de recessão mundial, haveria uma diminuição muito grande da demanda por petróleo. Além disso, o aumento da produção autorizado pela OPEP colabora para baixar os preços.
No dia 2 de abril, o barril do petróleo tipo Brent era negociado a até US$ 75,47, mas chegou a cair para US$ 58,40, o menor valor em quatro anos, após quatro quedas seguidas.
O avanço de 4,23% na quarta (9), após o anúncio da redução das tarifas, não foi suficiente para recuperar o valor perdido. Desde o tarifaço, caiu 13,67%.
E, se o preço do petróleo diminui no mercado internacional, a maior empresa do Brasil sofre impactos. O valor de mercado da Petrobras vem caindo desde o anúncio das novas tarifas.
Ouro 👑
Em meio às incertezas da guerra comercial, o ouro é um ativo seguro que não para de crescer. Ele começou o ano cotado a US$ 2.669 e, nesta sexta-feira (11), fechou em U$ 3.255,94.
Apesar de uma queda no meio do caminho, o preço do ouro subiu 2,82% desde o início do tarifaço, em 2 de abril.
Treasuries 🏛️
Treasuries, os títulos públicos emitidos pelo governo americano, são investimentos considerados os mais seguros do mundo. É natural, portanto, que eles avancem em momentos de crise.
Mesmo assim, dessa vez, a percepção negativa de investidores, empresários e da população em geral sobre as tarifas de Trump chegaram a levantar incertezas sobre a confiabilidade dos títulos norte-americanos.
O mercado, então, passou a exigir um maior retorno pelos títulos públicos americanos, para que a rentabilidade melhor compense os riscos de investir no país.
Desde o anúncio do tarifaço em 2 de abril, os juros para os títulos americanos subiram. Veja:
Treasuries com vencimento em 2 anos acumulam alta de 3,41%;
Treasuries com vencimento em 10 anos acumulam alta de 9,16%;
Treasuries com vencimento em 30 anos acumulam alta de 8,38%.
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