Na véspera, a moeda havia despencado 11,38%, enquanto o S&P Merval, índice que mede o desempenho das ações mais líquidas da Argentina, tinha avançado 4,70%. Peso argentino fecha estável no 2º dia após redução do controle de câmbio.
Reuters
O peso argentino fechou estável nesta terça-feira (15), segundo dia útil após a redução do controle câmbio determinada pelo governo de Javier Milei. A moeda encerrou o dia negociada a 1.198 por dólar. Na véspera, havia despencado 11,38%, cotada a 1.196,31 pesos.
O índice acionário S&P Merval, que mede o desempenho das ações mais líquidas da Argentina, recuou 3,41% em meio à realização de lucros — quando investidores vendem ações que se valorizaram rapidamente.
Na segunda-feira (14), o índice havia registrado um salto de 4,70%. O ânimo foi uma reação à redução dos controles cambiais no país, o chamado “cepo”. (entenda mais abaixo)
A flexibilização do cepo, anunciada na última sexta-feira (11) pelo banco central da Argentina, determinou o fim da paridade fixa para a moeda argentina e introduziu o “câmbio flutuante” — quando o valor da moeda é determinado pela oferta e demanda do mercado.
Com isso, o governo de Javier Milei ensaia o fim do sistema de restrição cambial que estava em vigor desde 2019, limitando a compra de dólares e outras moedas estrangeiras pelos argentinos.
Junto com a redução do controle cambial, foi anunciado que a Argentina fechou um acordo de US$ 20 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo o ministro da Economia, Luis Caputo, o dinheiro permitirá a “recapitalização do BC para ter uma moeda mais saudável e continuar o processo de desinflação”.
Entenda abaixo o que se sabe sobre o acordo com o FMI e sobre a nova política cambial do país.
Qual é a nova política cambial da Argentina?
Por que Milei implementou uma nova política cambial?
O que essa nova política pode fazer pela Argentina?
Qual o acordo feito entre a Argentina e o FMI?
A Argentina pode voltar para o mercado de capitais?
Títulos da Argentina sobem com suspensão de controle cambial
Qual é a nova política cambial da Argentina?
O novo regime de taxa de câmbio da Argentina acaba com o chamado “cepo” — uma série de restrições cambiais impostas pelo governo em 2019 para controlar a compra e venda de dólares.
Na época, o governo implementou a medida para limitar a compra de moeda e evitar a fuga de capitais para estabilizar a economia argentina, em meio a problemas nas contas públicas e alta dos preços.
Agora, a nova política cambial de Milei permitirá que o peso argentino flutue livremente entre 1.000 e 1.400 pesos por dólar — a política anterior era de câmbio fixo. Na última sexta-feira, por exemplo, a moeda estava em torno de 1.074 pesos por dólar.
O governo argentino detalhou que a nova faixa móvel se expandirá em 1% a cada mês, tanto no limite superior quanto no inferior, e o BC poderá comprar e vender dólares se esse intervalo for quebrado.
O BC argentino também explicou que, enquanto a moeda flutuar dentro dos limites estabelecidos, a instituição poderá operar nos mercados secundários por meio de operações de mercado aberto — são operações realizadas para controlar a oferta da moeda e ajudar no controle da política monetária.
De acordo com o FMI, a ideia de restringir o controle de câmbio é fazer com que a estrutura monetária da Argentina evolua para uma “taxa de câmbio totalmente flexível no contexto de um sistema bimonetário” — em que o peso argentino e o dólar coexistem e podem ser usados simultaneamente.
Outro ponto anunciado pelo governo argentino foi o fim do chamado “grampo de dólar”, que restringia o acesso à moeda estrangeira. A partir deste ano, as empresas poderão enviar lucros para fora do país, o que pode liberar mais investimentos de multinacionais.
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Por que Milei implementou uma nova política cambial?
Segundo o ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, a antiga política cambial “limitava o funcionamento normal da economia”.
A ideia, segundo o governo, é que as novas medidas, somadas aos recursos cedidos pelo FMI, possam tornar a moeda mais saudável, reduzir a inflação e permitir cortes de impostos.
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Argentina libera o limite de compra de dólares para pessoas físicas
O que essa nova política pode fazer pela Argentina?
Adriana Dupita, economista de mercados emergentes da Bloomberg Economics, destaca que a mudança no controle do câmbio pode aumentar o fluxo de exportações do país, beneficiando a balança comercial.
“A taxa de câmbio até a última sexta era tão barata que estimulava demais as importações e desencorajava as exportações. Assim, o saldo comercial do país vinha caindo e havia risco de caminhar para o negativo em breve”, afirma.
Ao mesmo tempo, os investidores estrangeiros não estavam enviando dólares para a Argentina, já que não teriam como retirar — devido às regras do cepo.
“Assim, a mudança do regime cambial ajuda tanto a evitar uma sangria de dólares pelo lado da balança comercial como cria a possibilidade de haver entrada de dólares pela via financeira.”
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Qual o acordo feito entre a Argentina e o FMI?
A Argentina fechou um acordo de US$ 20 bilhões (aproximadamente R$ 116,9 bilhões) com o Fundo Monetário Internacional (FMI), com prazo de 48 meses, na última sexta-feira (11).
Segundo o governo argentino, o país deve receber US$ 28 bilhões (R$ 163,6 bilhões) somente em 2025, incluindo:
US$ 15 bilhões (R$ 87,6 bilhões) do FMI;
US$ 6,1 bilhões (R$ 35,6 bilhões) de outros credores multinacionais;
US$ 2 bilhões (R$ 11,7 bilhões) de bancos globais; e
US$ 5 bilhões (R$ 29,2 bilhões) da extensão de um swap cambial com a China — esse é um acordo feito entre os bancos centrais dos dois países que permite que as instituições troquem moedas, o que ajuda a fortalecer suas respectivas reservas internacionais.
A ideia é que o FMI desembolse US$ 12 bilhões nesta semana, seguido de uma revisão do programa em junho que deverá liberar mais US$ 2 bilhões, e uma nova revisão no final do ano com mais US$ 1 bilhão.
“Esses recursos líquidos serão usados para fortalecer o balanço patrimonial (do banco central) por meio da recompra de títulos intransferíveis pelo Ministério da Economia”, informou o banco central da Argentina na última semana.
O acordo com o FMI estipula que a Argentina acumule reservas internacionais líquidas no valor de US$ 4 bilhões até o final do ano, em comparação com o nível registrado em 31 de dezembro de 2024. Essa meta acelera para um aumento de US$ 8 bilhões no próximo ano.
Um dos principais focos do governo de Milei é a acumulação de reservas. A ideia é aumentar a confiança na economia argentina para atrair investimentos e acelerar o crescimento.
Embora tenha tido algum sucesso ao longo do mandato, esse cenário se reverteu nas últimas semanas, em meio à crescente pressão sobre o peso. Com isso, as reservas líquidas caíram para US$ 7 bilhões negativos, segundo uma estimativa do FMI.
O acordo com o FMI prevê também um superávit fiscal primário (receitas maiores que despesas) de 1,3% do PIB neste ano. Esse crescimento ainda seria um pouco abaixo do ano passado, mas Caputo afirma que o governo terá uma meta mais alta que a proposta, em torno de 1,6%.
A meta fiscal geral — incluindo o pagamento da dívida — visa a um equilíbrio fiscal este ano. O superávit primário e geral começaria a aumentar no próximo ano e assim por diante.
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A Argentina pode voltar para o mercado de capitais?
Segundo o FMI, se houver uma “implementação decisiva” do programa e um rápido acúmulo de reservas, isso poderá reduzir os custos de empréstimos para a Argentina e fazer com que ela volte a acessar os mercados de capitais internacionais até o início de 2026.
Os desafios do país, com as reservas no vermelho, ainda não terminaram. Embora a inflação tenha diminuído drasticamente desde que Milei assumiu o cargo em dezembro de 2023, os preços elevados ainda persistem.
“A cobertura das reservas continua muito fraca”, disse o FMI. “É necessário mais trabalho para ancorar a inflação e fortalecer de forma duradoura a posição externa do país e a resiliência a um cenário global mais complexo.”
Segundo Dupita, da Bloomberg Economics, o empréstimo do FMI e a mudança no regime cambial “são muito bem-vindos” para a Argentina, e podem ajudar o país a entrar novamente no mercado de capital global, do qual está fora praticamente desde 2019.
“Hoje o país tem classificação de risco muito ruim e está fora dos índices de bolsa de mercados emergentes. Isto pode mudar com o tempo, conforme o país for reconstruindo suas reservas internacionais e demonstrar que segue firme no seu ajuste fiscal”, completa a economista.
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*Com informações da agência de notícias Reuters.
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